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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ACONTECEU NO CARNAVAL!...


ACONTECEU NO CARNAVAL!...
O camarote elegante, naquele hotel em Ondina ,estava lotado.Cheio de artistas globais,piriguetes,made in periferia,mas,com cara de colunáveis ,empresários de moringa cheia,balançando mais que navio em tempestade e velhas senhoras ultrapassadas,fingindo de brotinho e mostrando ,sem querer,as mal disfarçadas pelancas.Além dos gays,é claro;sem eles,nenhum camarote se sustenta.
Repara naquela madame,ali ,de nome comprido,apesar de ser ainda muito cedo,já tinha tomado todas,porém,o cavalheiro que a cumprimentou:-Oi! - estava ainda pior,pois,sendo assessor de político,nesses tempos brabos em que eles andam em baixa, e até vão presos,tinha mesmo que soltar as frangas,descontrair,para não endoidar de vez.
A velhota não devia ser mulher de oi,pois,olhou o sujeito meio atravessado e não respondeu ao cumprimento.
Mas,o tipo achando que não foi ouvido,descambou atrás dela,caindo e levantando e falou:
-Feliz Carnaval prá você!
Contrafeita,a mulher respondeu:
-O mesmo lhe desejo.
O homem sorriu,pegou uma taça,derramou um champanhe e ofereceu.
-Vira essa ai para soltar a alegria...
-Você já bebeu um bocado(hic);não tá na hora de parar?
-Êpa,pára esse papo cabeça.Parece conversa de mulher casada.
-Acontece que eu sou casada.
-Caramba,eu também,pô!Deu um soluço de bebum,- hic,hic- e ficou balançando o corpo prá lá e prá cá,como macumbeiro em transe.Sou um bocado casado;desde 1975,sacou!?
-Ora essa,eu também...Qual é o problema?
-Que puta coincidência,né?O Carnaval tem dessas coisas,a gente encontra caras que não vê a uma cara...Riu,satisfeito com o trocadilho infame. - Puta merda!
-Mas,me diz,você casou naquele convento enooorme,cujo aluguel do espaço deixa a gente limpo?
-Foi.Os bem-nascidos casam ali,né?Disse orgulhosamente_.
-Verdade,falou entornando um copo ,dessa vez de chopp.Também casei ali.E,pensativo:-Quanta coincidência!Não me diga que sua lua de mel foi em Paris...
-Claro,e viajei pela Varig.
_Puxa,eu também.Quase toda a gente passa lua-de-mel em Paris.
E,meio desanimado-Como se isso valesse prá alguma coisa...
Ela pareceu despertar de um sonho e aceitou o canecão de chopp que ele lhe ofereceu;já estava prá lá de marrakech,como diria o mano Caetano,mas,foi em frente.
Falou prá ele,a voz engrolada,meio triste:
_A lua-de-mel não depende do lugar; e,completou,filosofando:-Depende mesmo é do casal...
O cara deu um risinho e explicou:
-Minha mulher sempre diz isso...
Agarrou dois canecões que encheu de chopp,oferecendo um prá ela.
Mas,a mulherzinha já tava mudando o rumo da prosa.
-Olha aqui,Pauleta,você já bebeu demais.Vambora...
E agarrando um cambaleante marido o carregou prá casa.

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